quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Adeus 2010

O ano de 2010 vai nos deixando ..
ao som de Patu Fu me despeço deste ano..

e um ótimo 2011 para todos nós!


Patu fu - Música de Brinquedo

Artista: Pato Fu
Álbum: Música de Brinquedo
Gênero: MPB / Pop
Lançamento: 2010


01. Primavera (vai Chuva)


02. Sonífera Ilha


03. Rock And Roll Lullaby


04. Frevo Mulher


05. Ovelha Negra


06. Todos São Surdos


07. Live And Let Die


08. Pelo Interfone


09. Twiggy Twiggy


10. My Girl


11. Ska


12. Love Me Tender



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"...aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante (...) isso não se perde"


Pedra Rolante

“Pedra que muito rola não cria musgo” – dizia minha avó quando falava de um sobrinho, Francisco. Ninguém nunca sabia direito onde ele andava: podia ser Porto Alegre, Rio, São Paulo, Paris ou Alexandria. Não é jeito de dizer, não. Ele passou mesmo vários anos no Egito. O Francisco era um exemplo perfeito do que um bom rapaz não deve nunca fazer: andar por aí assim, mudando de cidade, de trabalho, de vida, com tanta facilidade como quem muda de camisa. Pedra que se preza, para minha avó, devia ficar parada e quietinha no seu lugar, criando embaixo aquela camada grossa de musgo verdinho.

Bom, uns anos depois, já na estrada, conheci o Francisco e achei ele ótimo. Tinha visto uma porção de lugares, conhecido um monte de gente, vivido e sentido coisas que a maioria das pessoas só imagina e não tem coragem de viver. Fiquei encantado: ele era uma pessoa larga. Largueza, para mim, é qualidade muito importante nas pessoas. Foi então que entendi melhor porque sempre tinha achado musgo uma coisa muito chata.

As pessoas vivem me perguntando: “Mas, afinal, onde é mesmo que você está morando?” Nem sempre sei responder. Pode ser aqui, ali, ou um pouco aqui, outro ali. Outro dia alguém se queixou que só de endereços meus tinha umas duas páginas ocupadas (e riscadas) na cadernetinha. Até pouco tempo atrás, confesso, eu mesmo ficava angustiado com essa inquietação toda. Agora estou mais acostumado. Tem coisas da gente que não são defeito nem erro: são só jeito da gente ser. O negócio é acostumar com isso e não sofrer. Aliás, o melhor jeito, em relação a qualquer coisa, é sofrer o mínimo possível. Aquilo que os americanos chamam de relax and enjoy – mais ou menos “relaxe e curta”.

Não sei dizer mais quantas vezes mudei de casa e de cidade. Fui, por exemplo, de Santiago, no interior do Rio Grande do Sul, para Porto Alegre, de lá para São Paulo, depois Campinas, Rio de Janeiro, um tempinho em Florianópolis, na Bahia, em Paris, em Londres, Estocolmo, mais um pouquinho no Rio, e por aí vai. Só em São Paulo já morei quatro vezes, de ir embora jurando nunca mais voltar, e voltando sempre. Só em Sampa, já passei pelo Jardim América, pela Bela Vista, Vila Madalena, Jardim Paulistano, Pinheiros, Sumaré, Centro da cidade – agora estou num lugar entre o Ibirapuera e Vila Nova Conceição, que ainda não consegui descobrir o nome. Sei que tem uma feira bem na minha rua, às terças-feiras.. Estou achando um grande barato ter, pela primeira vez na vida, uma feira aqui na porta de casa. Mas não sei até quando vou achar isso.

Minto. Sei, sim. Não é de repente, é mais aos pouquinhos que acontece. Difícil explicar, mas vai dando uma coisa de você não ver mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão. Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático e, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo – bem, para mim é porque está na hora de dar o fora. Aí a gente muda. Se não dá para mudar de cidade, muda de casa, muda de rua, de bairro (cá entre nós: massa mesmo seria poder mudar de planeta). Não há nada mais estimulante do que ver ruas e pessoas pela primeira vez. Você tem que fazer um superexercício para conseguir descobrir os jeitos particulares delas se comunicarem – sim, porque tudo isso tem um jeitinho particular. Você é novo. A maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.

Não digo que todo mundo deva fazer a mesma coisa, e que isso é o certo. Na minha cabeça, certo é tudo aquilo que dá prazer da gente fazer, desde – claro – que não prejudique ninguém. Depois, também acho que para acordar dessa espécie de sono limoso tem muito jeitos. Pode ser ler um livro ou ver um filme provocante, de vez em quando. Num fim de semana, ir a um bar ou a um bairro onde a gente nunca foi antes. Ou bater um bom papo, daqueles verdadeiros, com uma pessoa nova. O que não pode é começar a achar tudo igual, porque aí a criatura vai engordando por dentro e criando aquele tipo de barriga que eu chamo de “barriga mental”. Umas gordurinhas no cérebro que deixam o pensamento lerdo e tiram o prazer de qualquer coisa.

Claro que viver assim, pulando de galho em galho, também tem suas desvantagens. O que se perde de correspondência, por exemplo, é um absurdo. E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser tem muita força”. A gente não tem é que se assustar com as distâncias e os afastamentos que pintam. Mas, vantagens? Ah, isso também tem. A melhor delas é conhecer gente. Não tem coisa melhor (nem pior) do que gente. E, na minha opinião, não é plantado no mesmo lugar, caminhando sempre pelas mesmas ruas, repetindo ano após ano os mesmos programas, que você vai conhecer pessoas novas.

(Caio Fernando Abreu)

http://caiofcaio1.blogspot.com/2010/11/pedra-rolante.html

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

E agora, José? Carlos Drummond de Andrade e José Saramago




E agora, José?

Carlos Drummond de Andrade

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?

E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?




“E agora, José?”

José Saramago

Há versos célebres que se transmitem através das idades do homem, como roteiros, bandeiras, cartas de marear, sinais de trânsito, bússolas – ou segredos. Este, que veio ao mundo muito depois de mim, pelas mãos de Carlos Drummond de Andrade, acompanha-me desde que nasci, por um desses misteriosos acasos que fazem do que viveu já, do que vive e do que ainda não vive, um mesmo nó apertado e vertiginoso do tempo sem medida. Considero privilégio meu dispor deste verso, porque me chamo José e muitas vezes na vida me tenho interrogado: “E agora José?” Foram aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o desânimo se fez muralha, fosso de víboras, em que as mãos ficaram vazias e atônitas. “E agora José?” Grande, porém, é o poder da poesia para que aconteça, como juro que acontece, que esta pergunta simples aja como um tónico, um golpe de espora, e não seja, como poderia ser, tentação, o começo de interminável ladainha que é piedade por nós próprios.

Em todo caso, há situações de tal modo absurdas(ou que pareceriam vinte e quatro horas antes), que não se pode censurar a ninguém um instante de desconforto total, um segundo em que tudo dentro de nós pede socorro, ainda que saibamos que logo a seguir a mola pisada, violentada, se vai distender vibrante e verticalmente afirmar. Nesse momento veloz tocara-se o fundo do poço.

Mas outros Josés andam pelo mundo, não o esqueçamos nunca. A eles também sucedem casos, desencontros, acidentes, agressões, de que saem às vezes vencedores, às vezes vencidos. Alguns não têm nada nem ninguém a seu favor, e esses são, afinal, os que tornam insignificantes e fúteis as nossas penas. A esses, que chegaram ao limite das forças, acuados a um canto pela matilha, sem coragem para o último ainda que mortal arranco, é que a pergunta de Carlos Drummond de Andrade deve ser feita, como um derradeiro apelo ao orgulho de ser homem. “E agora José?”

Precisamente um desses casos me mostra que já falei demasiado de mim. Um outro José está diante da mesa onde escrevo. Não tem rosto, é um vulto apenas, uma superfície que treme com uma dor contínua. Sei que se chama José Junior, mas mais riquezas de apelido e genealogias, e vive em São Jorge da Beira. È novo, embriaga-se, e tratam-no como se fosse uma espécie de bobo. Divertem-se à sua custa alguns adultos, e as crianças fazem-lhe assuadas, talvez o apedrejem de longe. E se isto não fizeram, empurraram-no com aquela súbita crueldade das crianças, ao mesmo tempo feroz e cobarde, e o José Junior, perdido de bêbado, caiu e partiu uma perna, ou talvez não, e foi para o hospital. Mísero corpo, alma pobre, orgulho ausente - “E agora José?”

Afasto para o lado meus próprios pesares e raivas diante deste quadro desolado de uma degradação, do gozo infinito que é para os homens esmagarem outros homens, afogá-los deliberadamente, aviltá-los,fazer deles objeto de troça, de irrisão, de chacota-matando sem matar,sob a asa da lei ou perante sua indiferença.Tudo isto porque o pobre José Júnior é um José Júnior pobre.Tivesse ele bens avultados na terra ,conta forte no banco, automóvel à porta - e todos os vícios lhe seriam perdoados.Mas assim, pobre, fraco e bêbado, que grande fortuna para São Jorge da Beira.Nem todas as terras de Portugal se podem gabar de dispor de um alvo humano para darem livre expansão a ferocidades ocultas.

Escrevo estas palavras a muitos quilômetros de distância, não sei quem é José Júnior, e teria dificuldade em encontrar no mapa São Jorge da Beira.Mas estes nomes apenas designam casos particulares de um fenômeno geral:o desprezo pelo próximo, quando não o ódio, tão constantes ali como aqui mesmo, em toda parte, uma espécie de loucura epidêmica que prefere as vítimas fáceis.Escrevo estas palavras num fim de tarde cor de madrugada com espumas no céu, tendo diante dos olhos uma nesga do Tejo, onde há barcos vagarosos que vão de margem a margem levando pessoas e recados.E tudo isto parece pacífico e harmonioso como os dois pombos que pousam na varanda e sussurram confidencialmente.Ah, esta vida preciosa que vai fugindo,tarde mansa que não será igual amanhã, que não serás, sobretudo o que agora és.

Entretanto,José Júnior está no hospital, ou saiu já e arrasta a perna coxa pelas ruas frias de São Jorge da Beira.Há uma taberna, o vinho ardente e exterminador, o esquecimento de tudo no fundo da garrafa,como um diamante, a embriaguez vitoriosa enquanto dura.A vida vai voltar ao princípio.Será possível que a vida volte ao princípio?Será possível que os homens matem José Júnior?Será possível?

Cheguei ao fim da crônica, fiz o meu dever.” E agora, José?”

Crônica retirada do Livro do autor A Bagagem do Viajante.

...

Foram retiradas do seguinte site:

http://www.eeagorajose.kit.net/estilos/eagorajose.htm

http://www.eeagorajose.kit.net/estilos/eagorajosecrosaramago.htm

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A hora da escolha

por Silvio Caccia Bava

A campanha eleitoral do PSDB e das elites conservadoras neste ano traz características surpreendentes, porque consideradas superadas há muito tempo. É um renascer conservador que usa de todos os métodos, manipula, distorce, falseia, na tentativa de seduzir o eleitor sem dizer a que veio, sem apresentar sequer um programa de governo.

Temas como a crença em Deus, o aborto, a liberdade de imprensa, a corrupção, dominam a agenda eleitoral e, em si, já demonstram que não é o futuro do Brasil que os preocupa, mas desclassificar e derrotar seus adversários por quaisquer meios. E é tal a manipulação que, neste momento eleitoral, apresentam estes temas como se fossem da alçada de decisões da Presidência da República, o que não é verdade.

A separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios que funda o Estado moderno, que também é assegurada na Constituição de 1988 e em todos os países ocidentais. Crer ou não em Deus, ter ou não uma religião, são temas da vida privada, de foro pessoal, e assim devem continuar para garantir o respeito à diversidade e pluralidade culturais, fundamentos da democracia e da paz, ou voltaremos aos tempos das inquisições e da fogueira para sacrificar os hereges.

A descriminalização do aborto não é uma “política para matar criancinhas”, como declara solertemente a oposição. É uma questão de saúde pública que se propõe para evitar a morte de milhares de mulheres, condenadas a enormes riscos ao realizarem seus abortos de forma precária e clandestina, sem qualquer apoio do poder público. E é importante frisar que também aqui, neste caso, a decisão por adotar estas políticas não é da Presidência da República, mas sim do Congresso Nacional.

A questão da corrupção, ela sempre esteve presente na política brasileira, na democracia das elites, que se servem deste expediente na defesa de interesses privados, afrontando a dimensão pública e o interesse coletivo. Se é verdade que os expedientes do “dá lá, toma cá”, estão presentes também no atual governo, o que é lamentável e demanda uma reforma política para instituir controles democráticos efetivos sobre Executivo, Legislativo e Judiciário, não dá para o PSDB posar de vestal, basta lembrar as denúncias da compra de votos que permitiram a FHC modificar a Constituição e ter seu segundo mandato.

Esta agenda eleitoral, fundamentalista e despolitizada, que não trata das questões que importam para o futuro do país, só ganhou importância pelo destaque que a mídia lhe deu – TVs e jornais – que atuaram de maneira articulada, impondo sua versão dos fatos e tentando transformá-la em realidade. Nunca é demais lembrar que uma das questões centrais da democratização de nosso país é retirar do controle de apenas 9 famílias estes meios de comunicação. A tão propalada ameaça à liberdade de imprensa nada mais é que a defesa deste oligopólio, que por sua vez representa o conservadorismo, agora mais radical neste fim de campanha eleitoral.

Assistimos a um deslocamento ideológico onde o PSDB passa a ocupar o lugar do DEM, e o PT o lugar do PSDB. Esta situação abriu um espaço à esquerda no espectro político. Se Marina tivesse se aliado aos pequenos partidos à esquerda, que nasceram como dissidências do PT, poderíamos ter tido uma opção eleitoral à esquerda, mas este não foi o caso, como se pode ver com o alinhamento informal do PV à candidatura do PSDB. Marina paga agora o preço de sua ingenuidade.

A expressiva votação de Tiririca para deputado federal combina com a despolitização desta campanha e com um sentimento de rejeição pela política e pelos políticos de importantes setores da população, que desconfiam da falsidade das campanhas eleitorais e desta manipulação midiática. Afinal, como as candidaturas à presidência prometem mais creches, escolas, saúde, se estes equipamentos e serviços são responsabilidade dos governos municipais? Por que não falam de cambio, política externa, integração regional, projeto de desenvolvimento?

A verdade é que as candidaturas se dobraram à lógica das pesquisas eleitorais e das estratégias de marketing. Falam o que o eleitor quer ouvir. Prometem como sempre prometeram, a cada eleição. O importante nas condições atuais é construir critérios para avaliar as opções. E um deles pode ser o de comparar os governos que estes dois partidos realizaram e avaliar não só o quanto cumprem de suas promessas, mas o que fizeram pelo povo brasileiro.

Embora eles não estejam enunciados com clareza, existem dois projetos para o Brasil em disputa. O do PT é a continuidade de um processo de crescer favorecendo as grandes empresas nacionais e redistribuindo alguma (pouca) riqueza, permitindo a inclusão dos mais pobres. É a isso que se chama social democracia, uma antiga bandeira do PSDB. Já o projeto do PSDB é radical no sentido de favorecer o livre mercado, como se estivéssemos nos anos 90... E o livre mercado não tem nenhum projeto de desenvolvimento autônomo para o Brasil e nem se preocupa com o interesse público. Não é preciso dizer que esta opção só favorece as elites tradicionais, que se transformam em sócias menores do capital internacional, quando o fazem. Nesse caso, nossas riquezas irão beneficiar outros senhores e a desigualdade aumentará.

Mas, mesmo com estas condições que deixam tanto a desejar, temos que fazer uma escolha. Para muitos não será uma escolha pela sua identidade pessoal com um projeto político. Terá de ser uma avaliação em função das opções concretas. Falo especialmente para os que votaram em Marina no primeiro turno, para os que anularam o voto, para os que se abstiveram.

Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

Retirado:http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=2948

sábado, 16 de outubro de 2010

Os poemas

Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Retirado: http://quintanares.blogspot.com/2004/05/os-poemas.html

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A canção da vida

A CANÇÃO DA VIDA
A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

Retirado: http://quintanares.blogspot.com/2004/05/cano-da-vida.html

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

...

O coração dispara.

A voz não sai, e o raciocínio se perde.

É... a menina se apaixonou.

Anda sorrindo à toa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

VERISSIMO, Luis Fernando.

A audácia!

Quem o Lula pensa que é, tomando Romanée-Conti? Gente! O que é isso? Onde é que estamos? Romanée- iiiiiiiiiiiiiii Conti não é pro teu bico não, ó retirante. Vê se te enxerga, ó pau-de-arara. O teu negócio é cachaça. O teu negócio é prato-feito, cerveja e olhe lá. A audácia do Lula!

Hoje tomam Romanée-Conti, amanhã vão querer o quê? No mínimo se achar iguais a nós. Pedir os mesmos direitos. Viver como a gente, que tem berço, que tem classe, que tem bom gosto e portanto merece o melhor. E nós sabemos como isso acaba. Logo, logo vão estar querendo subir pelo elevador social.

O Lula tomando Romanée-Conti... Ora faça-me o favor. Que coisa grotesca. Que coisa ridícula. Que acinte. Que escândalo. E que desperdício. Vai ver ele não sabe nem pronunciar o nome, quanto mais apreciar o sabor. Vai ver derramou um pouco pro santo, na toalha. Romanée-Conti não é pra gentinha, não, Lula. As coisas boas da vida são para as pessoas finas do mundo, não pra pé-rapado que bota gravata e acha que é doutor. Muito menos pra pé-rapado brasileiro.

Está bom, foi só um gole. Mas é assim que começa. Hoje tomam um gole de Romanée-Conti, amanhã estão com delírio de grandeza, pedindo saneamento básico, habitação decente, oportunidade de trabalho e até — gentinha metida a grande coisa não sabe quando parar — mais saúde pública, mais igualdade e caviar. Enfim, essas coisas que intelectual comunista põe na cabeça deles. Sim, porque a índole natural da nossa gentinha, em geral, é boa. Se pudessem escolher, escolheriam angu aguado e vinho Boca Negra, coisas autênticas, às vezes mortais, mas pitorescas. Como eles, que até hoje nunca tinham incomodado ninguém, que até hoje conheciam o seu lugar. Agora, depois da gentinha provar Romanée-Conti, ninguém sabe o que pode acontecer neste país. Deram álcool para os índios! Nenhum branco está mais seguro.

O Lula tomando Romanée-Conti... É o cúmulo. É uma inversão completa dos valores sob os quais nos criamos, segundo os quais se Deus quisesse que os pobres tomassem vinho de rico daria uma ajuda de custo. É o fim de qualquer hierarquia social, portanto o caos. Ainda bem que ainda existem patriotas alertas para denunciar o ridículo, o acinte, o escândalo, e chamar o Lula de volta à humildade. Para mandar o Lula se enxergar.

Sim, porque hoje é Romanée-Conti e amanhã pode ser até a Presidência da República. Gentinha que não conhece o seu lugar é capaz de tudo.

Luis Fernando Verissimo, 15 de outubro, 2002


"A coluna de Verissimo é um amontoado de besteiras preconceituosas contra o candidato do PT. Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado de retirante, pau-de-arara, gentinha, pé-rapado brasileiro (...)’.

"Ao ler a coluna de Verissimo `A audácia!´ fiquei indignada com o tamanho do preconceito desse intelectual (...)“

"Eu e minha família estamos indignados com a opinião do Verissimo em sua coluna, por ele ter demonstrado claramente que não gosta de pobre decente, capaz de ser alguém na vida e na sociedade. Ele não só humilhou o Lula como toda uma nação que luta para um país melhor".

"Como pode um escritor do quilate, do berço, da inteligência e da elite de Verissimo escrever um texto racista e elitista como esse? A humildade tem que fazer parte desse escritor, que exclui uma enorme parcela da sociedade das coisas mais finas que ele julga ser só para os ricos e para ele".

"Verissimo foi infeliz, sobretudo, ao chamar-nos de gentinha. Posso não ser dotado de uma situação que me permita tomar Romanèe-Conti, mas vale lembrar que a maior parte desse país também não (...)".


"Quando o leitor não entende o que um jornalista escreveu, a culpa é sempre do jornalista. Peço desculpa a quem não entendeu a intenção da coluna. O alvo era o preconceito social implícito na reação desmedida ao fato do Lula ter tomado um bom vinho. Talvez tenha faltado o aviso ‘Atenção, ironia’. De qualquer jeito, culpa minha".

Luis Fernando Verissimo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O teu riso

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

domingo, 8 de agosto de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

Milan Kundera

"É errado, portanto, censurar um romance que é fascinante por suas misteriosas coincidências (...) mas é certo censurar o homem que é cego a essas coincidências em sua vida diária. Pois sendo assim, ele priva sua vida de uma nova dimensão de beleza"

(A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera)

quinta-feira, 24 de junho de 2010