terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Quando te vi.."



"Quando te vi amei-te já muito antes
Tornei a achar-te quando te encontrei
Nasci para ti antes de haver o mundo."
( Fernando Pessoa - referindo-se a uma mulher )

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Quanto a mim.."

"Quanto a mim... O amor passou. (....)Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inutil(...)"


Cartas de Amor de Fernando Pessoa, Organização, posfácio e notas de David Mourão-Ferreira, Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz, Edições Ática, Lisboa 1978, pp. 131-133.


domingo, 25 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

GALEANO, Eduardo.





"Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas."

(Eduardo Galeano )

sábado, 15 de agosto de 2009

DAMATTA, Roberto.


"todo etnólogo só poderá enxergar aquilo que está preparado para ver"

terça-feira, 14 de julho de 2009

Desnaturalizando o meio

Recebi um e-mail de uma colega e amiga da faculdade com este vídeo ..
achei interessante o modo simples como é tratado o assunto..
e acho que vale a pena postar aqui
..



"

http://www.sununga.com.br/HDC/index.php?topico=download

sábado, 11 de julho de 2009

Visões femininas do mundo

A difícil arte de ser mulher
Melissa Cristina Rodrigues

Bom, nascer mulher já é difícil desde os primeiros meses de vida, quando a grande maioria dos pais aproveita para furar as "orelhinhas" das filhas para colocar "brinquinho". Já ao sair do hospital a criança é exposta aos estereótipos, o quarto é cor-de-rosa, o bercinho é amarelinho, o enxoval... nem se fala. Vem os primeiros anos de vida e os pais enchem o quarto da menina com "bonequinhas", nana-neném, meu-bebê, palhacinhos... Se ela gosta de carrinhos, ah não, nem pensar, isso é coisa de menino. É isso aí, democracia começa em casa, afinal é desde pequeno que se torce o pepino, não é? Ela adora jogar bola com os meninos. O que é isso? Ah, pode parar, minha filha não vai virar sapatão não. Além do mais, ela é menina, e meninas são frágeis, e os meninos podem machucá-la. Os meninos são sempre mais violentos, o que mostra que a sociedade está educando muito bem seus "machinhos". Esse comportamento demonstra como o homem é, desde cedo, muito mais racional do que a mulher. Afinal, qual é o homem que nunca levou um "chazão"(desculpem-me, essa palavra em curitibanês significa "chá de cuecas")?

Pronto, agora entramos na adolescência e aí a coisa complica. Os pais sempre ignoram que nessa fase de mudanças, as filhas podem, eventualmente, se interessar pelo sexo oposto (apesar de isso ser tão óbvio). A jovem "donzela" só pode sair se for na casa da amiga e sem que o pai sequer sonhe que possa haver alguma presença masculina na turma de amigas da filha. A jovem vai ficando mais velha e não há mais como negar que ela é uma mulher. Ela arranja um namorado... ai, ai, ai... Namoro só se for na sala, junto do pai e da mãe, de mãozinhas dadas, bem comportadinhos. Nessa fase, o namoro já é considerado um pré-casamento, então é sempre necessário ministrar doses diárias de pudoríada na "ingênuadonzelaindefesa". Palestras caseiras sobre gravidez, aborto, etc, sempre metendo a maior quantidade de grilos e medos na pobre cabecinha da jovem... Sair à noite é perigoso, não só pela violência, mas pelo risco da garota perder a sua dignidade, a qual se localiza no meio das pernas, tanto para a mulher quanto para o homem, só que em sentidos opostos. Isso tem que ser deixado bem claro. Se ela deixar de ser, ela vai virar uma mulher fácil, da vida, mal falada. A mulher nunca faz amor, ela dá para o homem. O homem nunca faz amor, ele come a mulher (quem vê pensa que somos antrópofagos, ou mesmo carniçais, ou canibais). Sempre que houver uma tentação de enxergar o sexo como uma coisa natural, vale a interrogativa: Mas o que os outros vão pensar? O que os outros vão dizer? Se a jovem é de peitar o pai, as ameaças são permitidas e até mesmo bater no popô. Onde já se viu, uma filha pensar diferente do pai? Ora essa! Sair daqui por diante, só com a presença de um segurança e um fiscal (pai e irmão). Fora o resto do tempo em que todos a vigiam, pais, irmãos, vizinhos, tios, primos... E quando ela pensa que sua vida está virando um inferno, sempre tem uma avó ou um avô para complementar: dizer que sexo é sujo, é a tentação, são as portas do inferno se abrindo para ela. É pecado, é pecado, é pecado...

Quem pensa que isso acabou, ih, tem mais. Não dizem que o feminino de "ele sentado assistindo TV" é "ela em pé lavando a louça"? Pois é isso mesmo. Todos comem mas o dever de fazer comida e lavar a louça é dela. Todos sujam, mas quem tem que limpar é ela. E se ela não faz o serviço direito? Ou detesta serviços domésticos? Ah, é severamente punida. É discriminada e mal falada por toda a família e parentes. As conversas babacas de madames, por exemplo: "A filha da fulana não faz nada em casa, a minha sabe fazer de tudo". Quando a mulher questiona essa sociedade, inclusive com outras mulheres que aceitam as imposições passivamente, ela ouve a política do conformismo. "A sociedade é assim, e temos que aceitá-la".

Realmente, começar a mudar essa sociedade machista, preconceituosa e hipócrita, é trabalhoso e causa muitos aborrecimentos. Existem coisas que estão além de nossas forças. No trânsito, por exemplo, qualquer besteira, ah, tinha que ser mulher. Homem nunca faz besteira, imagina. Os seguros de automóveis dão belos descontos para mulheres, não sei por quê. Deve ser cantada, é claro. Falando nisso, é bom lembrar que ao andar na rua descubro que os homens parecem tão desesperados por um corpo feminino que vivem mendingando nossa atenção. É impossível andar um quarteirão e não receber meia dúzia de cantadas grosseiras. Qual é a mulher que nunca se sentiu um frango assado passeando no meio da cachorrada. A maioria das mulheres nem se dá ao trabalho de olhar, tão acostumadas... Olha lá, ela não é uma mulher, ela é uma bucetambulante. Fora que uma das coisas também que temos de engolir desde pequenas é os homens se gabando do fato de sua força bruta ser maior que a nossa (eu bem que gostaria de ver se um homem agüentaria a dor de um parto ou perder sangue todos os meses). Repito, ter orgulho da força bruta reforça o fato do homem ser tão racional. E contra isso é difícil lutar. Nunca vou ser tão forte quanto a maioria dos homens é.(...)
http://www.geocities.com/CollegePark/Lab/6681/textoh1.html


O mundo no olhar de Susanita







quarta-feira, 1 de julho de 2009

sábado, 27 de junho de 2009

Mão na Luva




Espetáculo teatral baseado na adaptação do texto homônimo de Oduvaldo Vianna Filho. Em seu enredo, o autor conta a história de um casal em crise, definidos inicialmente por Ele e Ela, colocando de forma muito sutil o relacionamento destes personagens, que em uma noite de discussão, após nove anos de união, Ela decide ir embora.




Ingressos no Theatro Treze de Maio
R$10,00 - Público Geral
R$7,00 - Sócios do Theatro
R$5,00 - Estudantes e Idosos






RETIRADO : http://www.theatro13maio.com.br/site/index.asp

domingo, 21 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O escorpião



O escorpião



Era uma vez um escorpião que decidiu não casar nunca. Tinha medo de ficar viúvo. Sabia que todos escorpiões podiam, de repente, suicidar. Mas o coração tem razões que até a razão desconhece. Caiu de amores por uma donzela escorpião. Sorte, era correspondido, mas ela também tinha, como ele, medo de perder seu amado. Preferiu não escutar o coração.

Por muito tempo, permaneceram sozinhos. O que os mantinha vivos era a curiosidade de saber o que o outro faria.

Um dia, ela decidiu procurá-lo e passavam horas na dança do amor, um tentando evitar ferir o outro e ser ferido. O medo da solidão sempre rondava. Vigiavam-se mutuamente, para evitar a morte.

A tal ponto que, sufocados, decidiram separar-se.

Desde então, passam a vida a se olharem de quando em quando, sempre indecisos entre o medo de ficar juntos e o risco do abandono.


Guiomar de Grammont
Caderno de pele e pêlo

terça-feira, 9 de junho de 2009

Pela luz dos olhos teus - Tom Jobim e Miucha





Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar

Meu amor juro por Deus
Me sinto incendiar

Meu amor juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais la ra ra ra...

Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor e só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Precisa se casar, precisa se casar

Composição: Vinicius de Moraes

Saudade de amar - Dori Caymmi e Paulo César Pinhero





Saudade
Daquele romance que a gente viveu.
Saudade do instante, em que eu te encontrei.
Saudade, do imenso desejo que a gente perdeu.
Eu tenho é muita saudade,
Do tempo que amei

Saudade, da força que tinha o meus olhos nos teus
Eu vivo a mercê das lembranças,
Depois desse adeus.

A gente não deve,
Sofrer por amor tanto assim.
Porem, todo amor mesmo breve,
Eu guardo bem dentro de mim.

Saudade, de cada momento que eu lembro de cor.
Só sabe de amor e de saudade,
Quem já ficou só.

Saudade, eu tenho saudade.
Mas não de contigo voltar.
Eu vivo sentindo saudade,
De amar

sábado, 6 de junho de 2009

Letras de algumas músicas...




Caetano Veloso - Sozinho








Ana Carolina - Carvão











quinta-feira, 7 de maio de 2009

MEDEIROS, Martha. Trem-bala.

Estou lendo "Trem-bala" de Martha Medeiros..e selecionei alguns de seus textos...

O que quer uma mulher

Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança, então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre. A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações. Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de Walt Disney.

Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas, nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing, engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós, cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar; mas, lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será preenchida.

Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas. Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de embarcar.

O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo" virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou preparar o jantar para você às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone possessos.

Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas. Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa.

Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é... Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente amada o suficiente.
Agosto de 1997.

A idade de casar

O amor pode surgir de repente, em qualquer etapa da vida, é o que todos os livros, filmes, novelas, crônicas e poemas nos fazem crer. É a pura verdade. O amor não marca hora, surge quando menos se espera. No entanto, a sociedade cobra que todos, homens e mulheres, definam seus pares por volta dos 25 e 30 anos. É a chamada idade de casar. Faça uma enquete: a maioria das pessoas casa dentro dessa faixa etária, o que de certo modo é uma vitória, se lembrarmos que antigamente casava-se antes dos 18. Porém, não deixa de ser suspeito que tanta gente tenha encontrado o verdadeiro amor na mesma época. O grande amor pode surgir aos 15 anos. Um sentimento forte, irracional, com chances de durar para sempre. Mas aos 15 ainda estamos estudando. Não somos independentes, não podemos alugar um imóvel, dirigir um carro, viajar sem o consentimento dos pais. Aos 15 somos inexperientes, imaturos, temos muito o que aprender. Resultado: esse grande amor poderá ser vivido com pressa e sem dedicação, e terminar pela urgência de se querer viver os outros amores que o futuro nos reserva.

O grande amor pode, por outro lado, surgir só aos 50 anos. Você aguardará por ele? Aos 50 você espera já ter feito todas as escolhas, ter viajado pelo mundo e conhecido toda espécie de gente, ter uma carreira sedimentada e histórias pra contar. Aos 50 você terá mais passado do que futuro, terá mais bagagem de vida do que sonhos de adolescente. Resultado: o grande amor poderá encontrá-lo casado e cheio de filhos, e você, acomodado, terá pouca disposição para assumí-lo e começar tudo de novo.

Entre os 25 e 30 anos, o namorado ou namorada que estiver no posto pode virar nosso grande amor por uma questão de conveniência. É a idade em que cansamos de pular de galho em galho e começamos a considerar a hipótese de formar uma família. É quando temos cada vez menos amigos solteiros. É quando começamos a ganhar um salário mais decente e nosso organismo está a ponto de bala para gerar filhos. É quando nossos pais costumam cobrar genros, noras e netos. Uma marcação cerrada que nos torna mais tolerantes com os candidatos à cônjuge e que nos faz usar a razão tanto quanto a emoção. Alguns têm a sorte de encontrar seu grande amor no momento adequado. Outros resistem às pressões sociais e não trocam seu grande amor por outros planos, vivem o que há pra ser vivido, não importa se cedo ou tarde demais. Mas grande parte da população dança conforme a música. Um pequeno amor, surgido entre os 25 e 30 anos, tem tudo para virar um grande amor. Um grande amor, surgido em outras faixas etárias, tem tudo para virar uma fantasia.
Junho de 1998.

Os Melhores, os piores e os diferentes

Lendo Cadernos de Lanzarote, publicação dos diários escritos pelo escritor José Saramago, encontrei em determinado trecho uma idéia que há muito me persegue: como é limitado julgar os outros baseado no quesito melhor ou pior. Saramago, no livro, agradece, a uma leitora por tê-lo considerado um escritor diferente dos demais, em vez de achá-lo o melhor. Não sei se foi falsa modéstia, mas prefiro acreditar que ele realmente sentiu-se mais elogiado assim. Hoje em dia, ou somos os mais bem vestidos, os mais viajados, os melhores cozinheiros, as melhores decoradoras, ou somos nada. Ou fazemos parte do time de vencedores, ou estamos do outro lado, perdendo. Vivemos num mundo absolutamente hierarquizado e maniqueísta: somos grandes ou pequenos, ricos ou pobres, integrados ou marginais.

Não que esse raciocínio seja destituído de lógica, mas incentiva pouco a criatividade. Julgar alguém melhor ou pior do que outro pressupõe que existam fórmulas soberanas, e melhor será aquele que obedecê-las. Admito que é utópico imaginar uma sociedade desprendida de juízos de valor, mas seria muito mais democrático, rico e estimulante um mundo onde a diferença fosse valorizada não como uma excentricidade, mas como busca de uma identidade própria.

Qual foi o melhor filme de 98, Titanic, de James Cameron, Carne Trêmula, de Almodóvar, ou Jackie Brown, de Tarantino? A maioria da população escolheria o primeiro, não porque sejá original, empolgante, moderno, perturbador (não é), mas porque é o menos surpreendente, o mais igual. Os outros fogem a qualquer parâmetro, não podem ser melhores nem piores porque não facilitam a comparação, diferem. Seu mérito é também seu castigo.

Por que o humor do Vida ao Vivo Show não emplaca, enquanto A Praça é Nossa comemora bodas de ouro na televisão? Por que as novelas são iguais, os locutores de FM sempre berram e as lojas vendem as mesmas roupas? Por que todos precisam de um forno de microondas, se sabemos que tira o gosto da comida? Ora, porque para sermos eleitos os melhores ou piores temos que nos adaptar às regras do consumo e do conviver. Nenhuma miss ganharia a faixa se usasse piercing, nenhum advogado chegaria a juiz se desmunhecasse e nenhuma senhora teria sua casa fotografada para uma revista de decoração se não tivesse o teto da sala rebaixado com gesso. Somos, nem tanto por burrice, mas por reflexo condicionado, prisioneiros do julgamento alheio. Tememos outras alternativas que não sejam as já testadas e aprovadas. Os diferentes abrem caminhos, criam opções, sobrevivem da própria independência, enquanto os outros vêm atrás, concorrendo ao título de melhores ou piores em repetição.
Dezembro de 1998.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Luis Fernando Verissimo

Retirado do jornal Zero Hora de hoje (30 de abril de 2009). Adorei o texto e não resisti.. Tive que postar..




Ah é, é?

Você eu não sei, mas, quando há um bate-boca como aquele entre os ministros Mendes e Barbosa, eu sempre lamento a falta de um texto melhor. Claro, no calor da briga ninguém pode escolher as palavras ou cuidar do valor literário dos seus insultos, mas é impossível deixar de imaginar o que um bom roteirista teria feito com a cena, escrevendo para os dois lados.

Certa vez, criei um personagem para um antigo programa do Jô, na Globo. Era o cara que só pensava numa boa resposta quando não adiantava mais. Ele estava caminhando na rua, dentro de um ônibus ou numa reunião com amigos e de repente soltava uma frase, como “Só se a sua mãe for junto!”. Depois explicava que dias antes alguém lhe dissera para ir tomar banho (no tempo em que mandar alguém se lavar era insulto pesado) e só agora lhe ocorria uma resposta. Na hora, ficara só dizendo “Ah é, é? Ah é, é?”, enquanto pensava numa frase devastadora que nunca vinha.

Há profissionais de resposta pronta, repentistas que retrucam não só no ato, como rimado, mas a maioria só pensa no que poderia ter dito muito depois. Humorista, e supostos humoristas, padecem mais do que os outros com a expectativa de que terão a boa resposta na ponta da língua. Como têm que zelar por uma reputação de tiradas espontâneas, são os que mais precisam pensar na frase, revisá-la e burilá-la para apresentá-la, de preferência uma ou duas semanas depois.

O sentimento de insuficiência na retaliação verbal é tão comum, que deveria existir uma expressão, talvez uma daquelas intermináveis palavras compostas com que os alemães transmitem o máximo de sensações possíveis sem o uso de vírgula, hífen ou violino ao fundo, que a descrevesse. E a expressão existe. Mas não é alemã. Diderot, o mais enciclopédico dos enciclopedistas franceses, pois aparentemente dava palpite sobre tudo, chamava a frase que só vem depois de “esprit d’ escalier”. Perfeito: o espírito que só nos socorre quando estamos descendo a escada.

Nos bate-bocas brasileiros predomina o “sprit d’ escalier”. O que vem na hora raramente passa do ‘Ah é, é? Ah é, é” ou equivalente.

(Você eu não sei, mas eu torço pelo Barbosa.).




terça-feira, 28 de abril de 2009

Refletindo sobre as cotas..

Retirado do BLOG
da Antropóloga Patrice Schuch...



O texto abaixo foi escrito em 2007, antes da UFRGS aderir as cotas
mas a discussão é pertinente e sempre atual ...


POR QUE NÃO COTAS NA UFRGS?

Claudia Lee Williams Fonseca (Professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS)
“Brasil não é um país racista”, ouvi na televisão ontem de um professor da UFRGS se manifestando contra cotas raciais. Que alívio, penso eu. Então o fato de brancos no Brasil viverem na média seis anos mais do que negros deve ser conseqüência de algum problema físico desses “outros”. Brasil “não tem segregação racial”, leio numa coluna de opinião contra as cotas. Que bom. Aquela porção (quase o dobro dos brancos) que vive amontoada nos aglomerado subnormais deve refletir um gosto cultural pela vida simples. “Não há prova estatística impedindo a ascensão social de negros”, leio de outro autor escrevendo contra cotas. Que consolo pensar que aquele grande número de negros vivendo abaixo da linha de pobreza (46.8% contra 22,4% dos brancos) deve ser porque eles simplesmente não se esforçam mais! Quanto à universidade, já que temos o vestibular para dar um atestado de neutralidade ao sistema meritocrático, devemos reconhecer que a falta de estudantes negros reflete não a discriminação racial, mas, sim, o quê? Uma inteligência inferior? Claro que não, pois esse seria um argumento racista. Não há negros na universidade, os anti-cotistas explicam, simplesmente porque esses postulantes ao vestibular têm menos anos de estudo do que os brancos e em escolas de pior qualidade. Seguindo essa lógica, a solução não é encontrar mecanismos para corrigir distorções e incluir esses historicamente prejudicados indivíduos na educação superior. É esperar que o sistema de educação fundamental melhore (ou se alguém está com pressa, que mude de bairro e entre numa escola de qualidade!).

Perdoem o tom irônico desse texto – mas fico pasma com esses argumentos pois, ao meu ver, revelam uma lógica profundamente racista. Pergunto – se não existe racismo no Brasil, como explicamos que, casualmente, os negros são os mais pobres, os mais doentes, os menos escolarizados da população? Se não é por causa da discriminação racial, deve ser por incompetência mesmo.... Quanto à questão do “racismo institucional”, podem me explicar por que a porcentagem de negros no sistema prisional continua a bater todos os recordes? Além do “mero” efeito da pobreza desproporcional entre negros, pesquisadores como Sergio Adorno já demonstraram que, diante de acusações semelhantes, o réu negro é preso e condenado com muito mais freqüência do que seu cúmplice branco...

Aliás, é difícil entender como os anti-cotistas podem se abraçar aos argumentos sofistas de um jornalista, Ali Kamel, já amplamente criticado por sua total incompreensão da estatística (ver Luis Nassif ) quando os estatísticos mais qualificados do pais, trabalhando no IBGE e PNUD chegam a conclusões completamente opostas. (*Blog de Nassif: http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassifeconomia/2006_10.html)

É como se os anti-cotistas estivessem comprando integralmente a noção da “democracia racial” – mito cunhado por Gilberto Freyre e já amplamente criticado por cientistas sociais durante esses últimos trinta anos. Claro que não existe segregação racial ou racismo no Brasil – do ponto de vista dos brancos que já têm acesso às benesses do ensino superior. Esses não têm preconceito contra “pessoas de cor”, desde que elas aceitem se conformar ao lugar delas indicado pelas regras “universais” de nossa seleção. Será que algum jovem afro-brasileiro já mostrou ressentimento pelo fato de que não encontra praticamente nunca um médico ou dentista negro? De que, conforme o IBGE, o negro brasileiro, em 2000, ganha na média a metade do que ganhava o branco brasileiro em 1980 (com valores corrigidos)? De que um colega branco tem mais de cem vezes as chances de entrar na universidade (obrigada André). Bem – talvez haja um pouco de ressentimento – mas esse ressentimento não é nada em relação ao ódio racial que os brancos vão sentir se imaginam que algum negro está “burlando” o sistema (que sempre funcionou tão bem!) e passando na frente da fila. É assim que devemos entender o argumento dos anti-cotistas?

Se a maioria desses argumentos soam absurdos, há alguns que expressam uma dúvida compreensível. Será que cotas na universidade pública vão servir para combater a discriminação racial e desigualdade social no Brasil? É evidente que, nessa sociedade complexa, não é possível prever todas as variáveis que vão influenciar os resultados – positivos e problemáticos – das cotas. É também evidente que uma política isolada não surtirá por si só grande efeito. Por outro lado, a situação atual é intolerável para qualquer cidadão consciente do grau de desigualdade (racial e social) em nosso país.
Já existem mais de trinta instituições no país experimentando diferentes formas de cotas e, ao que tudo indica, não ocorreu nenhum cataclismo. Na grande maioria de casos, as cotas não semearam conflitos raciais entre os estudantes, não provocaram a perda de prestígio, nem a repentina degringolada de qualidade do ensino superior. Em outras palavras, a experiência com cotas – tal como a experiência com cotas para mulheres, indígenas,”nordestinos”, ou qualquer outra categoria -- rende resultados diversos que valem a pena ser observados, analisados para reconhecer erros e ir aprimorando o sistema. Mas, para tanto, temos que ter a coragem de ensaiar novas políticas. A luta contra o assustador status quo tem que começar em algum lugar. E onde melhor do que numa instituição que se preza por sua reflexão crítica e politicamente engajada?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Martha Medeiros VII

Outro tipo de mulher nua


Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa, basta uns retoquezinhos, aqui e ali. Leio que Fernanda Karina posará nua por R$ 2 milhões, depois leio que a revista não confirmou o convite, depois leio que ela vai posar sim senhor e vai utilizar o dinheiro numa campanha para eleger-se deputada, e no meio desta artilharia de informação eu fico tonta e me pergunto: quem diabos é Fernanda Karina? Ah, a secretária que esteve na CPI e que virou mais uma celebridade instantânea neste país surreal. Nunca vi tanta mulher nua. Os sites da
internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas. O que não falta é candidata para tirar a roupa. Serviu cafezinho numa cena de novela? Posa pelada. É prima de um jogador de basquete? Posa pelada. Caiu do terceiro andar? Posa pelada.

Dá uma grana boa. E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê? Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas. Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos. Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade - emocionalmente.

Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso. É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história. É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente. Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos - aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana. Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar,mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais. Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que esperava-se com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo - pra citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo. Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na carreira. Até é. Na maioria das vezes, rumo à decadência.

Escadas servem para descer também. Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores
verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro. Não conheço strip-tease mais sedutor.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Martha Medeiros VI

O cartão

EU TINHA 17 ANOS E ERA LOUCA POR um cara com quem trocava olhares, não mais que isso. Ele era o legítimo “muita areia pro meu caminhão” e jamais acreditei que pudesse vir a se interessar por mim, o que me deixava ainda mais apaixonada, claro. Mulher adora um amor impossível.

Então chegou o dia do meu aniversário. No final da manhã eu estava em casa,contando os minutos para uma festa que daria à noite, quando a empregada apareceu com um cartão nas mãos, dizendo que o zelador o tinha encontrado embaixo da porta do prédio. Abri e fiquei azul, verde, laranja: era dele! Corri para o telefone e liguei para minha melhor amiga. “Que trote bobo, você quase me mata de susto, pensa que não sei que foi você que escreveu o cartão?” Ela jurou por todos os santos e anjos que não. Liguei para outra amiga. “A letra é igual à sua, eu sei que foi você!” Não tinha sido. Liguei para outra: “Você acha que eu vou acreditar que um cara lindo que nunca me disse bom dia veio até aqui largar um cartão amoroso desses?” Ela me diagnosticou esclerose total. Bom, diante de tantas negativas, só me restou pensar: “De noite eu descubro quem é que está tirando uma comigo”. E esqueci o assunto. Semanas depois estava caminhando na rua quando encontrei o dito cujo. Ele resmungou um oi, eu devolvi outro oi, e então ele perguntou se eu havia recebido o cartão de aniversário. Minha pressão caiu, minhas pernas fraquejaram, eu só pensava: mas que idiota que eu fui! O que iria responder? “Recebi, mas jamais passaria pela minha cabeça que um homem espetacular como você, que pode ter a mulher que escolher, fosse entrar numa papelaria, comprar um cartão, escrever um texto caprichado, depois descobrir meu endereço, e então pegar o carro, ir até a minha rua, colocar o envelope embaixo da porta feito um ladrão, e aí voltar pra casa e aguardar meu telefonema. Olhe bem pra mim, eu não mereço tanto empenho.”

Respondi: “que cartão?”
Ele soltou um “deixa pra lá” e foi embora se sentindo o mais esnobado dos homens. E assim terminou uma linda história de amor que nunca começou. Dez anos depois nos encontramos casualmente e tivemos um rapidíssimo affair, mais aí já não éramos os mesmos, não havia clima, ficamos juntos apenas para ver como teria sido se. Vimos. E não escutamos sinos, não fomos flechados pelo Cupido.Cada um voltou para sua vida e nunca mais tivemos notícia um do outro. Contei esta história para um amigo outro dia e ele comentou que conhecia outras mulheres assim. Êpa, assim como? Não me humilhe!! Ora, assim medrosa, desconfiada, temendo pagar micos diante da vulnerabilidade que toda paixão provoca. Ele estava certo. Era assim mesmo que eu me sentia aos 17 anos: medrosa e incapaz de levar um grande amor adiante. Quando recebi o tal cartão, deveria ter pego o telefone e ligado imediatamente para o meu príncipe encantado para agradecer e convidá-lo para a festa.

E se ele tivesse dito: “que cartão?”

Eu responderia “deixa pra lá, mas venha à festa assim mesmo”. E então eu assumiria as conseqüências, não importa quais fossem. O nomezinho disso: vida. É sempre uma incógnita, portanto não vale a pena tentar fugir das decepcções ou dos êxtases, eles nos assaltarão onde estivermos. Se você for uma garota banana como eu fui, acorde. Ninguém é muita areia pra ninguém. Pessoas aparentemente especiais se apaixonam por outras aparentemente banais e isso não é um trote, não é uma pegadinha, não é nada além do que é: um inesperado presente da vida, que todos nós merecemos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Martha Medeiros V

AMOR DE ESTIMAÇÃO

"Conheço uma mulher, já quase cinqüentona, que passou boa parte da sua vida apaixonada pelo primeiro namorado. Eles tiveram um romance caliente lá nos seus 18 anos, depois se separaram e cada um tomou seu rumo.

Ele casou e teve filhos, ela casou e teve filhos. Nas raras vezes em que se cruzavam pelas ruas da cidade, cumprimentavam-se, perguntavam como andava a vida de um e de outro, mas nada além disso. A verdade é que ela preservou o sentimento que tinha por ele por muitos anos, mesmo sendo feliz no seu casamento. Era um amor de estimação. Até que esse amor, tão sem ressonância, tão sem retribuição, tão sem aditivos, um dia evaporou. Perdeu o prazo de validade. Expirou.

Dia desses esta mulher recebeu um telefonema. Era ele. Oi, tudo bom? Há quanto tempo? Trivialidades de quem não se fala há anos. Ela perguntou: o que você conta? Ele respondeu que estava ligando para dizer uma única coisa: eu te amo. Corta. Não teve happy end. Ela agradeceu o telefonema, desligaram e ambos seguiram suas vidas.

Conversando com ela sobre isso, senti sua felicidade e desilusão ao mesmo tempo. Felicidade, logicamente, por ter deixado marcas profundas no coração dele: nem em sonhos ela imaginou que ele também tivesse levado esse sentimento tão adiante. E a tristeza veio da falta de ressonância, mais uma vez. Por que a demora? Por que a falta de sincronia? Como teria sido se ele houvesse dito isso alguns anos antes? Agora já não adiantava.

A beleza e a tristeza da vida podem estar em situações como esta: descobrir, tarde demais, que se ama uma pessoa. Pode acontecer até com quem está ao nosso lado neste instante. Parece que é um amor morno e sem graça, e que se acabar, tanto faz, e só daqui a muitos anos descobrir que nada era mais forte e raro do que este sentimento.

Tarde demais é uma expressão cruel. Tarde demais é uma hora morta. Tarde demais é longe à beça. Não é lá que devemos deixar floresce nossas descobertas."

Martha Medeiros IV

ATÉ A RAPA

"Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de 40 graus, uma estação de metrô, a rua principal do centro da cidade. Pois metade deste povaréu sofre de dor-de-cotovelo. Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos têm um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.

Por que isso acontece? Eu tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórica no assunto. Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim. Você sabe, o amor acaba. É mentira dizer que não. Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: amizade, parceria, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor foi devorado até a rapa. Dor-de-cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote.

O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia, sem falar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade. É preciso passar por todas as etapas: atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim. Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estar aberto para novos amores. Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.

Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo. Isso é que libera a gente para ser feliz de novo."

Martha Medeiros III

O Sentido da Vida‏


"Não é nenhuma novidade que dinheiro, viagens, status, beleza e outras coisinhas mundanas são sonhos de consumo de muita gente, mas não dão sentido à vida de ninguém. A única coisa que justifica nossa existência são as relações que a gente constrói. Só os afetos é que compensam a gente percorrer uma vida inteira sem saber de onde viemos e para onde vamos. Diante da pergunta enigmática - por que estamos aqui? - só nos consola uma resposta: para dar e receber abraços, apoio, cumplicidade, para nos reconhecermos um no outro, para repartir nossas angústias, sonhos, delírios. Para amar, resumindo.


Piegas? Depende de como essa história é contada. Se for através de um filme inteligente, sarcástico, tragicômico como Invasões Bárbaras, o piegas passa à condição de arte. O filme é uma espécie de continuação de O Declínio do Império Americano. Naquele, um grupo de amigos se encontrava numa casa à beira de um lago e discutia sobre vida, morte, sexo, política, filosofia.Em Invasões Bárbaras, estes mesmos amigos, quase 20 anos depois, se reencontram por causa da doença de um deles, que está com os dias contados.

Descobrem que muitos dos seus ideais não vingaram, que muita coisa não saiu como o planejado, só o que sobrou mesmo foi a amizade entre eles. E a gente se pergunta: há algo mais nesta vida pra sobrar? Quando chegar a nossa hora, o que realmente terá valido a pena? Os rostos, risadas, mulheres, decotes, pernas, beijos, confidências e olhares que nos fizeram felizes por variados instantes de sexo, que não preenchiam o vazio da alma. Mas, Pais e filhos, maridos e esposas, amigos: são eles que sustentam a nossa aparente normalidade, são eles que estimulam a nossa funcionalidade social. Se não for por eles, se não houver um passado e um presente para com eles compartilhar, com que identidade continuaremos em frente, que história teremos para carregar, quem testemunhará que aqui estivemos?

Só quem nos conhece a fundo pode compreender o que nos revira por dentro, qual foi o trajeto percorrido para chegarmos neste exato ponto em que estamos, neste estágio de assombro ou alegria ou desespero ou seja lá em que pé estão as coisas pra você. Se não nos decifraram, se não permitimos que aplicassem um raio x na gente, então não existimos, o sentido da vida foi nenhum.

Todas as pessoas querem deixar alguns vestígios para a posteridade. Deixar alguma marca. É a velha história do livro, do filho e da árvore, o trio que supostamente nos imortaliza. Filhos somem no mundo, árvores são cortadas, livros mofam em sebos. A única coisa que nos imortaliza - mesmo - é a memória daqueles que nos amaram e foram fiéis. "

domingo, 19 de abril de 2009

Martha Medeiros

Sensibilidade demais

Na hora de listar as qualidades que a gente quer encontrar nas pessoas com quem iremos nos relacionar vida afora, está lá a indefectível “sensibilidade”. A gente quer que o patrão seja sensível e não um grosso. A gente quer que nossa amiga seja sensível e não um trator. A gente quer - e como quer! - que nosso namorado seja sensível e não um machista brucutu.

Encontrar sensibilidade nos outros é meio-caminho andado para o entendimento. E sermos, nós mesmos, sensíveis, também é um filtro bem-vindo, é a sensibilidade que permite nossa comoção diante de um quadro, de uma música, de um amor que nos arrebata ou de uma perda irreversível. Mas admito que sinto uma certa inveja daquelas pessoas que são sensíveis mas não se tornam vítimas da própria emoção. Porque sensibilidade demais esgota a gente.

Tem horas em que o filtro não filtra coisa nenhuma: permite que a gente seja atingido profundamente por coisas que mereceriam menos entrega. Cultivamos mágoas por coisas que nos aconteceram 15 anos atrás, remoemos culpas que já foram mais que perdoadas e esquecidas, temos nosso sistema nervoso totalmente abalado porque alguém compreendeu mal nossas palavras, sofremos por questões insolúveis, sofremos, sofremos, e sofrer dá uma senhora consistência à nossa vida, mas como cansa.

Às vezes me farto dos ideais que persigo e que, por serem ideais, nunca se concretizarão plenamente. A vida é defeituosa, imprevisível, nada é exatamente como a gente gostaria que fosse - e sensibilidade é algo que faz a gente aceitar isso e ser feliz do mesmo jeito. Já sensibilidade demais dá nos nervos e fatiga à toa. Uma certa frieza nos faz andar mais rápido, não nos retém.

Como se mede, se pesa, se percebe a sensibilidade suficiente e a sensibilidade excessiva? No quanto ela joga a nosso favor ou contra. Sensibilidade suficiente refina você, lhe dá um foco na vida. Já a sensibilidade excessiva faz de você protagonista de um dramalhão mexicano. Temos escolha? Não se escolhe, é o que se é. Os que são sensíveis na medida aproveitam a vida sem duras cobranças internas. Já a turma dos excessivos pega canetas, câmeras, pincéis, sapatilhas, instrumentos, e transforma o excesso em arte. Ou faz besteiras. Cada um encontra onde colocar sua sensibilidade, uns com leveza, outros com fartão de si mesmos. Os únicos que seguem não entendendo nada são os insensíveis.

sábado, 18 de abril de 2009

Texto interessante ..

Pesquisando na internet achei um artigo muito bom em relação a Sociologia no ensino médio ... esse é o site: http://www.habitus.ifcs.ufrj.br/6finalidades.htm
Alguns fragmentos :
"Para Sociologia no ensino médio, portanto, o grande desafio a ser alcançado é promover o questionamento do social de modo a permitir aos alunos uma concepção abrangente dos valores e do daquilo que está em jogo dentro do espaço social, não permitindo que negligenciem as desigualdades, tampouco esquecendo que eles podem tornam-se agentes na busca de soluções para as dificuldades."

"Do meu ponto de vista, acredito que o bom professor é aquele que incentiva aos alunos a tornarem-se autodidatas, que abre o jogo e debate sobre a realidade com propriedade, a crítica não pode ficar apenas no âmbito da constatação e não deve haver posições diferentes para o mesmo tipo de conduta, ele deve explicar, por exemplo, que não adianta nada se indignar com os escândalos da corrupção em Brasília e não ter a mesma postura em relação a um possível desvio de verbas de um político local. Não podemos utilizar máscaras para ensinar e sermos outra pessoa fora da sala de aula."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vento no Litoral / Legião Urbana

De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda esta forte
E vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...

Agora está tão longe
ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção
Aonde está você agora
Alem de aqui dentro de mim...

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você esta comigo
O tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem...

Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano
Era ficarmos bem...

Eieieieiei!
Olha só o que eu achei
Humrun
Cavalos-marinhos...

Sei que faço isso
Pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...

sábado, 4 de abril de 2009

A Serenata

"Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.

Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, porque é certo que ele vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.

De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?"
Adélia Prado

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Martha Medeiros - publicado na Revista O Globo

"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros.Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante".

terça-feira, 31 de março de 2009

Doidas e santas

"'Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa'. São versos de Adélia Prado, retirados do poema A Serenata. Narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo o ou mais tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão - não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude. E encerra: 'De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?'.

Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode uma mulher buscar uma definição exata para si mesma estando em plena meia-idade, depois de já ter trilhado uma longa estrada onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais estrada pela frente? Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões - e a gente sabe como as desilusões devastam - terá que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?

Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe???

Nem ela, caríssimos, nem ela.

Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.

Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? (não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do).

Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar "the big one", aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio-pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra."
Martha Medeiros

Entre amigos

"Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém."

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sou o que ...

"... sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero. Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos..."

Por te falar eu ..

"Por te falar eu te assustarei
e te perderei?
Mas se eu nunca falar
eu me perderei,
e por me perder
eu te perderia."

Fragmentos

"Decifra-me, mas não conclua!
Eu posso te surpreender..."

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.”

"A única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais...."

'Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato;
Ou toca ou não toca... '

" Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

segunda-feira, 9 de março de 2009

Scracho/ Do inferno ao paraíso

"Ahhhhh
Se você descobrisse o que eu sinto por você
A vida faz sentido
Você me faz querer viver
Tudo que você pedisse, iria buscar pra você
A lua, o mar e as estrelas
Mudo meus planos pra poder te ver

Quanto tempo faz
Nem importa mais
Eu sou submisso, assumo e digo mais
Nada teria valor
Se não tivesse ao meu lado você
Que me dá força, que eu preciso
Com você eu faço do inferno o paraíso

Com você eu faço do inferno...

Ahhhhh
Se você me dissesse que não quer mais me ver
Meu corpo treme todo só de pensar em te perder
Mas eu não desanimaria
Mesmo que fosse me enlouquecer
Loucura maior seria aceitar viver sem você

Quanto tempo faz
Nem importa mais
Eu sou submisso, assumo e digo mais
Nada teria valor
Se não tivesse ao meu lado você
Que me dá força, que eu preciso
Com você eu faço do inferno o paraíso"

sábado, 7 de março de 2009

Há um tempo..

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
autor desconhecido

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mais Martha

"Eu vivo dizendo que não sou psicóloga, mas mesmo assim recebo vários e-mails de leitores que me escrevem páginas e páginas sobre seus dilemas amorosos. Contam que são apaixonados por alguém, que sentem isso e aquilo, e no final me perguntam: o que é que eu faço para conquistá-lo? Se eu tivesse a solução na ponta da língua, deixava de ser escritora e iria ganhar a vida dando consulta através de um 0900 qualquer. Mas não tenho solução, tenho apenas um vago palpite: em vez de declarar seu amor para uma pessoa que não tem nada a ver com a história (eu), declare para o maior interessado (ele/a).
Declaração de amor funciona. Não é varinha de condão, não faz mágica, mas jamais passa despercebida. Todo mundo, não importa a idade, o sexo ou o estado civil, quer ser amado. Podemos até já ser muito amados, mas queremos mais. Queremos saber que agradamos os outros, queremos receber um lote extra de atenção. É humano: desejamos ser aceitos pelo maior número de pessoas. Quando a gente consegue despertar o amor em alguém por quem também estamos apaixonados, é o reino dos céus. Mas mesmo quando a gente desperta o interesse em quem não nos atrai, ainda assim isso mexe favoravelmente com nosso ego. E esta pessoa deixa de ser um ninguém.
Um cara ou uma garota chega perto de você e diz com todas as letras que você é a pessoa mais importante da vida dela, que te ama pra caramba e pede para que, se você um dia achar possível retribuir esse sentimento, mande avisar. Vira as costas e vai embora. Cacilda. Você só vai debochar dessa criatura se for muito tosco. Você sabe como é difícil tomar coragem e abrir o coração pra alguém sem saber se tem alguma chance. E se for para alguém que já tem namorado, mais complicado ainda. Pois alguém enfrentou essa parada e se declarou pra você. Se você o achava um idiota, pense duas vezes: este idiota se amarrou em você, então não deve ser tão idiota assim.
Apaixonou-se? Declare-se. Pode dar em nada, mas garanto que você vai ficar na cabeça de alguém o tempo necessário para ele considerar a hipótese."

Um pouco de Martha Medeiros...

"...Vício, não. Se você é viciado em alguém, vai só até a metade do caminho:
revolta, lágrimas, saudade e recaída. E pára por aí. Insiste na recaída. A
ansiedade faz você cometer loucuras para ter o seu amor de volta, e quando
consegue cinco minutos com ele, atira-se com volúpia: fuma, cheira, bebe o
cara até a última gota. Depois? Uma inebriante sensação de cura. Não, você
não precisa mais dele. Pode muito bem passar sem ele. Você nem o acha tão
atraente assim, e volta para casa sentindo-se um Hércules de saias:
conseguiu vencer a si própria.

Passam-se então duas semanas e você liga para a companhia telefônica para
saber se sua linha está com defeito. O telefone simplesmente não toca! Seu
carro também já não obedece suas ordens: dirige-se sozinho para a rua onde
mora o querido, só para ver se a moto dele está em frente à garagem. Está.
Então ele não voltou para Vênus, continua na cidade. Você começa a suar
frio. Sente vertigens. Mastiga o lápis do escritório, derrama café nos
colegas, treme ao segurar um copo. Diagnóstico: crise de abstinência. Você o
procura. Precisa urgente de uma injeção de carinho na veia.

O final dessa história? Não existe. Ele precisa dela também, caso contrário
nem abriria a porta. Reivindica-se a criação urgente de um AA: Apaixonados
Anônimos. Assim como tem gente que, para vencer o alcoolismo, evita dar o
primeiro gole, algumas pessoas precisam aprender a evitar o primeiro beijo
para não reincidir num amor que faz mal à saúde."

terça-feira, 3 de março de 2009

O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o amor antigo, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

LIRA DO AMOR ROMÂNTICO

Ou a eterna repetição

Atirei um limão n'água
e fiquei vendo na margem.
os peixinhos responderam:
Quem tem amor tem coragem

Atirei um limão n'água
e caiu enviesado.
Ouvi um peixe dizer:
Melhor é o beijo roubado.

Atirei um limão n'água
como faço todo ano.
Senti que os peixes diziam:
Todo amor vive de engano

Atirei um limão n'água,
como um vidro de perfume.
Em coro os peixes disseram:
Joga fora teu ciúme.

Atirei um limão n'água
mas perdi a direção.
Os peixes, rindo, notaram:
Quanto dói uma paixão!

Atirei um limão n'água,
ele afundou um barquinho
Não se espantaram os peixes:
faltava-me o teu carinho.

Atirei um limão n'água,
o rio logo amargou.
Os peixinhos repetiram:
É dor de quem muito amou.

Atirei um limão n'água
o rio ficou vermelho
e cada peixinho viu
meu coração num espelho.

Atirei um limão n'água
mas depois me arrependi.
Cada peixinho assustado
me lembra o que já sofri.

Atirei um limão n'água,
antes não tivesse feito.
Os peixinhos me acusaram
de amar com falta de jeito.

Atirei um limão n'água,
fez-se logo um burburinho.
Nenhum peixe me avisou
da pedra no meu caminho.

Atirei um limão n'água,
de tão baixo ele boiou.
Comenta o peixe mais velho:
Infeliz de quem não amou.

Atirei um limão n'água,
antes atirasse a vida.
Iria viver com os peixes
a minh'alma dolorida.

Atirei um limão n'água,
pedindo à água que o arraste.
Até os peixes choraram
porque tu me abandonaste.

Atirei um limão n'água.
Foi tamanho o rebuliço
que os peixinhos protestaram:
Se é amor, deixa disso.

Atirei um limão n'água,
não fez o menor ruído.
Se os peixes nada disseram,
tu me terás esquecido?

Atirei um limão n'água,
caiu certeiro: zás-trás.
Bem me avisou um peixinho:
Fui passado pra trás.

Atirei um limão n'água,
de clara ficou escura.
Até os peixes já sabem:
você não ama: tortura.

Atirei um limão n'água
e caí n'água também,
pois os peixes me avisaram,
que lá estava meu bem.

Atirei um limão n'água,
foi levado na corrente.
Senti que os peixes diziam:
Hás de amar eternamente.



Carlos Drummond de Andrade

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade

CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

Toada do Amor

E o amor sempre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga.

Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.

Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.


Carlos Drummond de Andrade -
In Alguma Poesia, 1930.

domingo, 1 de março de 2009

Timidez

"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras distantes...
- palavras que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponhos vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo
até não se sabe quando...
- e um dia me acabarei."

Cecília Meireles

http://www.cecypoemas.com/cecilia_meireles_poesia.htm

sábado, 28 de fevereiro de 2009